Incentivar uma participação mais ativa na própria gestão da saúde pode salvar vidas

07/08/25
Incentivar uma participação mais ativa na própria gestão da saúde pode salvar vidas

A Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), em colaboração com a Novartis, lançou a campanha “55 é a sua linha vermelha”, com o objetivo de sensibilizar para os riscos associados aos níveis elevados de colesterol LDL (C-LDL) no sangue. A iniciativa reforça a importância de manter este valor abaixo dos 55 mg/dL, apontando-o como um limite crucial na prevenção das doenças cardiovasculares em Portugal. Como tal, Carlos Morais, vice-presidente da FPC, confidencia quais os resultados que pretendem obter através desta iniciativa. Leia a entrevista.

News Farma (NF) I Qual é a importância da comunidade médica incentivar as pessoas que já tiveram um evento cardíaco a reforçarem a sua literacia sobre saúde cardiovascular?

Carlos Morais (CM) I O incentivo à literacia em saúde cardiovascular é fundamental e causa à qual a Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) se dedica diariamente. Com mais informação, os doentes compreendem melhor o seu estado de saúde, as doenças que têm, os riscos associados e, sobretudo, a importância da adoção de hábitos mais saudáveis.

O doente esclarecido participa ativamente nas decisões sobre a sua saúde, adere melhor ao plano de tratamento, reconhece sinais de alerta e assume comportamentos preventivos com mais facilidade. Para quem já teve um enfarte agudo do miocárdio, isto é ainda mais importante, já que cerca de uma em cada quatro pessoas sofre um novo episódio nos dois anos seguintes.

É precisamente esse o objetivo da campanha “55 é a sua linha vermelha”, promovida pela FPC, em parceria com a Novartis: melhorar a literacia em saúde cardiovascular, capacitando os portugueses a conhecerem o seu risco cardiovascular e a compreenderem a importância de manter um controlo rigoroso do colesterol LDL, o chamado “colesterol mau”.

NF I Como é relevante manter o LDL controlado?

CM I O colesterol é um tipo de gordura (ou lípido) que o organismo produz e de que necessita para funcionar adequadamente. No entanto, quando os níveis no sangue estão elevados, o risco de desenvolver doenças cardiovasculares aumenta significativamente.

Nos resultados das análises clínicas, são geralmente apresentados três tipos de colesterol: o colesterol total, que corresponde à quantidade total de colesterol no sangue; o colesterol HDL, também conhecido como “colesterol bom”, que ajuda a eliminar o colesterol das artérias; e o colesterol LDL, conhecido como “colesterol mau”, que promove o acúmulo de placas de aterosclerose nas artérias e o consequente aumento do risco de doenças cardiovasculares.

Manter os níveis de colesterol LDL controlados é importante para todas as pessoas, mas é especialmente crucial para quem já sofreu um enfarte agudo do miocárdio ou outro evento cardiovascular. Nestes casos, em que o risco cardiovascular é mais elevado, o controlo deve ser ainda mais rigoroso. Manter o colesterol LDL sempre abaixo dos 55 mg/dL é fundamental. Este valor é mais do que uma recomendação, é uma linha vermelha que pode evitar um segundo episódio.

NF I De que forma é possível, e importante, a prevenção secundária das DCCVs?

CM I A prevenção secundária é a chave para prevenir novos episódios cardiovasculares em pessoas que já foram diagnosticadas com doenças cérebro-cardiovasculares. Esta prevenção assenta no controlo rigoroso de fatores de risco como o colesterol LDL, a hipertensão arterial, a diabetes, e o tabagismo; no acompanhamento médico regular, com a interpretação dos resultados das análises e ajuste da medicação sempre que necessário; e na promoção de estilos de vida saudáveis: deixar de fumar, adotar uma alimentação equilibrada, praticar exercício físico e cuidar da Saúde Mental. Através destas medidas, é possível reduzir significativamente a taxa de recorrência de eventos cardiovasculares. É precisamente para sublinhar a importância desta prevenção secundária que lançamos a campanha “55 é a sua linha vermelha”.

NF I Quais são os resultados que pretendem obter através desta campanha?

CM I Com a campanha “55 é a sua linha vermelha”, a FPC e a Novartis pretendem aumentar a consciencialização da população portuguesa para a importância do controlo rigoroso do colesterol LDL e do conhecimento do risco cardiovascular individual. Para isso, foi criada uma plataforma, um site gratuito onde qualquer pessoa pode avaliar o seu risco cardiovascular através do preenchimento de um questionário simples e rápido.

A campanha tem como objetivo aumentar a literacia em saúde cardiovascular, especialmente junto de pessoas que já sofreram um episódio cardiovascular e que, por isso, apresentam um risco aumentado. Incentivar uma participação mais ativa na gestão da saúde, através da preparação eficaz para as consultas médicas, dado que uma consulta bem preparada permite, de forma mais eficaz, ajustar a medicação, rever hábitos de vida e, como consequência, salvar vidas através da prevenção. Para apoiar os doentes neste processo, o website da campanha disponibiliza também um guia informativo gratuito, com orientações práticas para preparar a consulta médica, manter o plano terapêutico, monitorizar a tensão arterial, registar os sintomas e organizar a documentação clínica necessária.

NF I Atualmente, qual é o panorama atual destes eventos cardíacos em Portugal e o que falta fazer para diminuir estes números?

CM I Em Portugal, tal como no resto do mundo ocidental, as doenças cérebro-cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte, de morbilidade e de diminuição de qualidade de vida, com enorme sofrimento para doentes e famílias e consequente impacto negativo na sociedade. Para reduzir o número de casos, é fundamental continuar a apostar na consciencialização da população e na sua capacidade de transformar informação em ação.

Há 45 anos que a Fundação Portuguesa de Cardiologia alerta para o facto de que se morre, muitas vezes, por razões que podem ser evitadas: excesso de peso, diabetes, tensão arterial elevada, colesterol alto, tabagismo, maus hábitos alimentares e sedentarismo.

Não obstante, os dados mais recentes são preocupantes. O estudo “Os Portugueses e os Fatores de Risco”, divulgado pela FPC, mostra que quase metade das pessoas com hipertensão ou colesterol elevado não altera a sua prática de atividade física após o diagnóstico. Isto significa que muitos continuam a viver da mesma forma, mesmo depois de conhecerem os riscos, o que prova que ainda há muito a fazer.

Aumentar a literacia em saúde dos doentes, seus familiares e da população em geral é uma das prioridades de intervenção da Fundação Portuguesa de Cardiologia particularmente no âmbito das doenças cerebro-cardiovasculares. 

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